segunda-feira, 23 de julho de 2007

Daniel Johnston

Daniel Johnston é um admirável caso de um artista que, constantemente desafiado por imprevisíveis períodos de debilidade provocados por uma doença mental crónica, conseguiu construir uma carreira musical sólida e inspiradora. Presumivelmente auto-didacta, Daniel Johnston nasceu em Sacramento, na Califórnia e editou os seus primeiros temas através da Stress, uma editora por ele mesmo criada. Estes primeiros temas, lançados logo no início dos anos 80, foram compilados sobre o título (auto-explicativo) Songs Of Pain. Não podendo ser considerado um génio no campo musical, Johnston conquistou os seus primeiros fãs não só através da forma amadora e apaixonada como tocava a sua guitarra mas principalmente pela simplicidade das suas letras, focando a sua atenção nas pequenas vitórias do seu quotidiano e na sua peculiar forma de percepcionar o Mundo.

A saída da obscuridade deu-se quando a MTV gravou em Austin, para onde Johnston se tinha recentemente mudado, um programa sobre a (ainda hoje) empolgante cena musical da cidade. Passou, nesta altura, de um improvável artista underground a uma lendária figura de culto americana. É nesta altura (1989) que, sob a chancela da Homestead, é editado Yip Jump Music, em que Johnston presta a sua sincera homenagem aos Beatles e de onde sai um dos seus maiores êxitos, Casper The Friendly Ghost (inspirado na personagem de banda desenhada com o mesmo nome). Por esta altura, o cantor tinha já sobrevivido a duas hospitalizações, o que não significou qualquer abrandamento da sua veia criativa. Neste mesmo período, Daniel Johnston assinou um dos momentos mais marcantes da sua carreira, com uma versão a capella do seu tema Speeding Motorcycle através do telefone numa das míticas Peel sessions, na BBC 1. Esta mesma actuação conquistou a atenção de editoras multinacionais e foi desta forma que assinou pela Atlantic, lançando o muito aclamado Fun, em 1994.

No entanto, esta relação com a Atlantic revelou-se de curta duração. Depois de ter trabalho com um dos membros dos Butthole Surfers, o sucesso de Johnston aumentou exponencialmente. A confiança no êxito do seu trabalho determinou também um alargamento na base de fãs e granjeou-lhe rasgados elogios da crítica mas, inesperadamente, a ligação à Atlantic foi quebrada. Daqui resultou que Daniel Johnston se viu a braços com longos períodos de depressão (que se estenderam por alguns anos), lutando (muitas vezes a custo) contra o alheamento que lhe tolhia as capacidades criativas e, ainda assim, escrevendo novos temas. Este foram posteriormente editados em Rejected Unknown (2001), título que se supõe ser uma dura crítica à indústria musical que se recusava a integrá-lo. Apesar de se debater com profundas crises de auto-estima e assimilação da realidade, o estilo de Johnston nunca passou pelo cinismo ou pela auto-comiseração. A sua ingenuidade imprimiu a toda a sua obra um carácter de autenticidade que nunca teria emergido, caso o cantor tivesse sido absorvido pela ávida e cruel indústria do mainstream. A sua figura e o mito criado à sua volta renasceram com o filme The Devil and Daniel Johnston, de Jeff Feuerzeig, apresentado no festival de Sundance em 2005. Mas nem esta recente exposição mediática conseguiu devolver o génio de Daniel Johnston ao público que ele merece e ainda hoje ele permanece uma figura fascinante no imaginário de apenas alguns.



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