segunda-feira, 21 de maio de 2007

Penetration


Os Penetration nasceram pela mão de Pauline Murray e Robert Blamire que, juntamente com Gary Chapman e Gary Smallman, viviam na pequena e pacata vila mineira inglesa de Ferrybridge. Antes de Don't Dictate, o primeiro single da banda a conseguir algum sucesso, os Penetration tinham já conseguido uma actuação como banda de suporte dos Generation X no londrino The Roxy, conhecido por ser uma sala onde tocavam preferencialmente as bandas punk mais quentes do momento. O single revelava uma banda disposta a arriscar, fazendo uso de uma sonoridade mais crua, menos trabalhada do que outras bandas do mesmo período. A personalidade impulsiva e o potencial da voz de Pauline Murray levaram a que a cantora fosse de imediato comparada a Patti Smith ou a Siouxie Sioux, apesar de não ter conquistado a mesma visibilidade que essas duas divas do rock.

O lançamento em 1978 do primeiro LP, Moving Targets, fazia adivinhar uma carreira longa no espectro mais agressivo e reivindicativo da música que se fazia então. O álbum provocou uma reacção positiva, ainda que algo despercebida, na imprensa e no público, nomeadamente devido ao seu carácter interventivo e de consciência social. No entanto, e apesar desta aparente escalada na consideração da opinião pública, a banda começou desde logo a sentir algumas dificuldades em manter-se como tal. As constantes pressões da editora (a Virgin), bem como uma incapacidade em conjugar as apresentações ao vivo com a escrita de material novo fizeram com que a banda se separasse logo depois da edição do seu segundo álbum, Coming Up For Air.

Da separação da banda resultaram algumas tentativas individuais de singrar no mundo da música. Enquanto Fred Purser (o teclista que se tinha juntado à banda em 1978) retomou a sua actividade no seio dos Tygers Of Pan Tang, Pauline Murray iniciou uma carreira a solo, tornando-se no membro da banda a manter-se durante mais tempo no activo. Com o projecto Pauline Murray And The Invisible Girls, Murray arrisca uma aventura mais concentrada na música pop, com alguns laivos de experimentalismo mas já definitivamente afastada da sonoridade punk com que se tinha iniciado na música. Pauline Murray tornou-se assim numa das mais sub-aproveitadas mas conhecidas vocalistas de bandas punk.



segunda-feira, 14 de maio de 2007

Mogwai

Formados em 1995 por Stuart Braithwaite, Martin Bulloch e Dominic Atchinson, os Mogwai há muito que se tornaram num caso sério da música que se faz no Reino Unido. Oriunda de Glasgow, a banda viu a sua formação completa com a entrada de John Cummings e Brendon O'Hare ainda no Verão de 97. O nome da banda refere-se a uma personagem do filme Gremlins mas, tal como comenta Stuart Brathwaite, não tem nenhum significado especial: os membros da banda gostaram apenas do som da palavra.

O primeiro álbum da banda, Mogwai Young Team, foi lançado no ano de 1997 mas foi ainda precedido pelo lançamento de alguns singles de grande sucesso, como foi o caso de Tuner/Lower, Summer ou New Paths To Helicon. Para aguçar ainda mais o interesse do público, os Mogwai deram um concerto memorável no festival T In The Park, actuação em que deram a conhecer o som etéreo e violentamente melancólico que é a sua imagem de marca. O futuro viria a revelar que os concertos da banda resultam bastante melhor em ambientes fechados, onde a potência que investem nas suas músicas não se dispersa e onde a melancolia surte mais efeito.

O ano de 1998 revela-se também um ano muito fértil em lançamentos. A banda lança primeiro Do The Rock Boogaloo (um split EP com os Magoo, em que tocam covers do Black Sabath), depois segue-se o álbum de remisturas Kicking A Dead Pig: Mogwai Songs Remixed ( com as participações dos Arab Strap, Kid Loco ou Alec Empire, entre outros) e editam também uma colecção de singles mais antigos, intitulada Ten Rapid. A este período prolífico segue-se a edição do segundo longa duração da banda, Come On Die Young, trabalho de audição menos simples, muito devido à ausência dos crescendos sónicos a que a banda tinha vindo a habituar o público. O estilo dos Mogwai tornou-se mais polido e mais suave, o que beneficiou a banda que entrou directamente para o Top 30 nesse mesmo ano.

O ano de 2001 foi definitivamente um ano de sucesso para os Mogwai. Através da sua própria editora, a Southpaw, lançaram um dos seus mais bem sucedidos álbuns, Rock Action. Temas como 2 Rights Make One Wrong ou Dial:Revenge demonstram a opção da banda por avançar por terrenos mais experimentais, trazendo grandiosidade com os seus efeitos orquestrais e retomando a utilização das guitarras musculadas mas melódicas. O último álbum da banda, Mr. Beast, foi lançado em 2006 e mostra uns Mogwai mais reflectivos, uma banda virada para si mesma, como que em busca de compreender que som é este que faz e em que direcção caminham a melancolia das guitarras.



quinta-feira, 10 de maio de 2007

Stone Roses


Os Stone Roses formaram-se em Manchester quando decorria o ano de 1985 e foram buscar a inspiração para o seu nome a duas bandas distintas: os English Rose e, quem mais poderia ser, os Rolling Stones. Da formação inicial faziam parte Ian Brown(vocalista) e John Squire (guitarrista e vocalista), antigos companheiros de escola a quem se juntaria também Reni (Alan Wren) na bateria. Começaram por tocar nos arredores de Manchester e, apesar do som que faziam estar ainda longe daquele que viria a ser a sua imagem de marca, os Stone Roses conseguiram desde logo reunir uma mini-legião de fãs. Mais virados para um estilo agressivo, lançaram o seu primeiro single, So Young/Tell Me, pela mão de Martin Hannett, parceria que resultou num fracasso e que contribuiu para a ideia de que os Stones Roses não estavam na moda.

Os dois primeiros anos da banda deram os seus frutos no que diz respeito à sua auto-confiança e também à direcção que a sua música tomou. As melodias sobrepuseram-se à agressividade, a bateria de Reni tomou um lugar central e Brown descobriu uma maior suavidade na maneira de usar a sua voz. Em 1989 lançaram o seu primeiro álbum, The Stone Roses, que passou a ser considerado como um dos discos fundamentais da história da música inglesa. Dele fazem parte canções como I Wanna Be Adored, I Am The Ressurection ou Fool's Gold, em que a banda demonstrava estar não só atenta ao rock que tinha sido feito nos anos 60 mas também a um certo psicadelismo visionário, o que demonstra que estava claramente à frente do seu tempo.

No final do ano de 1989, os Stone Roses eram já respeitados e considerados como líderes de um movimento de bandas que tinha como base a fusão das guitarras do rock com o acid house que vingava nesses anos. Em 1990, organizaram o seu próprio festival, provando que as bandas mais alternativas podiam também encher grandes recintos, espaços até aqui reservados a banda de cariz pop como os U2. Após este bom momento, os Stone Roses ficaram quatro anos sem lançar qualquer álbum de originais devido à batalha legal que tinham com a sua editora, a Silvertone. Esta paragem teve, obviamente, os seus efeitos negativos: afastou a banda do público quando este estava claramente rendido à novidade e obrigou a uma pausa na sua criatividade.

Depois de resolvido o imbróglio judicial, os Stone Roses acabaram por assinar com a Geffen, lançando assim em 1994 o seu segundo longa duração, Second Coming. Muito do público e da empresa especializada considerou este álbum muito inferior à estreia da banda. O afastamento da onda psicadélica e a aproximação a uma música de tradição mais blues e mais folk abalou a base de fãs da banda. A somar a estas críticas menos positivas esteve também o aparecimento do britpop e, com ele, de bandas cujo som era devedor dos... Stone Roses.

Em 1995, Reni abandonou a banda e marcou desta maneira o início do fim dos Stone Roses. Já com uma tour marcada no Reino Unido, a banda sofre mais um revés: John Squire tinha tido um acidente de viação nos Estados Unidos e não poderia tocar. Os fãs da banda manifestaram expressamente o seu desagrado pela sua ausência dos palcos. O ano de 1996 viu também a saída de Squire, aparentemente sem qualquer motivo, o que provocou alguns ressentimentos no seio da banda. Depois de uma prestação desastrosa em Reading, em que os fãs vaiaram a banda e atiraram inúmeros objectos para o palco, os Stone Roses deram a sua actividade por terminada. E assim, de uma forma ingrata e inesperada, terminou a carreira de uma banda que já tinha sido the next big thing.


quarta-feira, 9 de maio de 2007

Joy Division

Muita tinta já correu sobre a história dos Joy Division. A curta duração da banda, bem como o legado que vieram deixar para as bandas que lhe seguiram já foram estudados, analisados e publicados, resultado da personagem obscura e dramática que estava no centro deste turbilhão musical: Ian Curtis.

Os Joy Division foram formados por Ian Curtis, Bernard Albrecht, Peter Hook e Stephen Morris em Manchester quando decorria o ano de 1977. Não responderam sempre a este nome: antes tinham ainda sido designados por The Stiff Kittens ou por Warsaw, nome sob o qual iniciaram verdadeiramente a sua actividade. Foi ainda com esta designação que tiveram a sua primeira oportunidade de se mostrar ao vivo, actuando como banda suporte dos Buzzcoks e dos Penetration no Electric Circus, também em Manchester.

Ainda no ano de 1977, a banda viu-se obrigada a alterar o nome para Joy Division, retirado da designação dada pelos soldados nazis à divisão onde se encontravam as prostitutas judias em alguns campos de concentração. A escolha do nome desde cedo se revelou polémica, tendo a banda ficado imediatamente associada à ideologia de extrema direita, recebendo mesmo ainda o epíteto de 'pequenos Adolfos' em referência clara a Adolf Hitler.

O primeiro EP da banda, An Ideal For Living, foi editado pela Enigma, editora que a banda detinha em nome próprio. Mas a verdadeira estreia da banda em registos de longa duração deu-se apenas pela mão de Rob Gretton, na altura o manager da banda, e por aquela que viria a ser uma das mais prolíficas editoras britânicas: a Factory. O álbum Unknown Pleasures, destinado no início a ser mais uma edição punk, tornou-se no expoente máximo da angústia existencial de toda uma geração, concentrado e fomentado pela pose afectada e distante de Curtis. Apesar de não partilhar de toda a violência do punk, este álbum era feito de momentos de exorcismos emocionais, de gritos contra a alienação urbana e virava a atenção para dentro da própria banda. O hype à volta da banda foi posteriormente confirmado, com a presença dos Joy Division nas famosas Peel Sessions, em 1979.

Durante a sua primeira digressão europeia, os Joy Division viram bastantes concertos cancelados devido à progressiva degradação da saúde de Ian Curtis. Se no início o vocalista hipnotizava o seu público com movimentos robóticos e estilizados, a digressão veio revelar que a epilepsia de que Curtis sofria estava a ganhar terreno e os concertos eram muitas vezes dominados pelas convulsões que lhe provocavam longos períodos de inconsciência ou de aparente transe. A gravação de Closer terminou em 1980, ano em que é lançado o single que confirmou a genialidade de Curtis e determinou toda a devoção que, a partir daí, foi dedicada à banda - Love Will Tear Us Apart.

A par da gravação e lançamento do seu segundo álbum, a banda tinha conseguido marcar a sua primeira tour americana para Maio de 1980, tour essa que não veio a realizar-se. Na véspera da partida para os Estados Unidos, Ian Curtis enforcou-se em sua casa, vítima de um casamento que ameaçava desmoronar-se a qualquer momento e de uma profunda incapacidade de lutar contra os seus próprios demónios. Como outros antes dele e outros que se lhe seguiram, Curtis imortalizou-se como o ícone e a voz inquieta de toda uma geração. Respeitando o pacto que tinham feito, os restantes membros da banda não usaram mais a designação Joy Division e não utilizaram o material que ainda tinha ficado por editar, tendo antes nascido uma banda das cinzas: os New Order.

terça-feira, 8 de maio de 2007

Pussy Galore

Os Pussy Galore formaram-se no ano de 1985 por Jon Spencer e Julie Cafritz, que se tinham conhecido na universidade em Providence. A formação foi sempre oscilando no que diz respeito ao número de membros, até aos últimos dias da banda: neste período inicial, juntaram-se ainda à banda o baterista John Hamill e Cristina Martinez. Esta última, antes de ser música ou cantora, era a fotógrafa de 16 anos responsável pela fotografia da capa do primeiro EP da banda, Feel Good About Your Body.

As opiniões sobre a banda nunca foram, já desde os seus primórdios, consensuais. A moverem-se em terrenos musicais semelhantes aos Sonic Youth ou Husker Du, os Pussy Galore eram militantes de uma corrente de hardcore mais primitiva e industrial, afastando-se do psicadelismo de outras bandas da altura e aproximando-se daquilo a que podemos chamar terrorismo sónico. Foram buscar a sua designação a uma personagem dos filmes de James Bond e, apesar do talento limitado de cada um e de uma atitude narcisista e tendencialmente destrutiva do conjunto, foram capazes de criar grandes momentos de trash rock.

Já com Neil Haggerty e Bob Bert (que vem substituir Hamill) na formação, os Pussy Galore editaram o seu primeiro EP Groovy Hate Fuck, cuja gravação foi integralmente caseira e que dava as primeiras pistas sobre a atitude provocadora da banda (comprovada por títulos como Cunt Tease ou You Cook Like A Jew). Respondendo aos rumores que circulavam na altura de que os Sonic Youth iriam recriar o White Album dos Beatles, a banda aventurou-se também na recriação do famoso Exile On Main Street, dos Rolling Stones, tendo apenas conseguido a edição de quinhentas cassetes. Em 1987 lançaram o seu primeiro longa duração, sob o título Right Now!, já sem a participação de Cristina Martinez (que optara por manter a sua relação com Jon Spencer, em detrimento da participação na banda). Muito devido à produção de Steve Albini, este primeiro LP conseguiu atenuar a resistência que a crítica sentia em relação à banda, sendo que a sonoridade se apresentava menos marginal e mais concentrada na vertente noise presente desde o início da banda.

O segundo trabalho da banda, Dial M For Motherfucker, veio trazer a ruptura final de Julie Cafritz com a banda. A provocação característica do movimento punk continua a ser um elemento fundamental das canções que, apesar disso, se afastam rumo a territórios mais experimentais - muitas sequências são tocadas ao contrário, o fim de uma música confundia-se com o início de outra.

Já como um trio (Spencer, Haggert e Bert) lançaram em 1990 aquele que viria a ser o último registo original da banda e cujo título tinha sido escolhido com toda a ironia - La Historia De La Musica Rock. O último trabalho dos Pussy Galore está já a anos-luz dos seus antecessores, apresentando como influência mais óbvia os blues. Neste mesmo ano, a banda separou-se, dando origem a duas novas bandas: Jon Spencer forma com Cristina Martinez (ainda hoje sua mulher) os Jon Spencer Blues Explosion e Neil Haggerty junta-se a Jennifer Herrema para formar os Royal Trux. O projecto original terminou numa divisão, mas numa divisão que mostrou trazer mais sucesso e visibilidade aos seus membros, sendo que as bandas dele resultantes ainda hoje se encontram no activo. Dois anos depois da separação, é ainda editado The First Year, que reúne temas lançados no início da carreira dos Pussy Galore, bem como algumas entrevistas aos seus membros.

Dial M For Motherfucker The First Year Right Now!


segunda-feira, 7 de maio de 2007

Boards Of Canada

Os Boards Of Canada formaram-se em Edimburgo, na Escócia e são ainda hoje constituídos por Michael Sandison e Marcus Eoin. A descoberta da sua música passou pela gravação de um mini-LP, Twoism, enviado para as editoras em forma de vinil em vez da normal demo tape. Através desta primeira gravação, os Boards Of Canada deram a conhecer a sua sonoridade, prontamente apontada como sendo devedora de Aphex Twin ou Jega.

Em 1996, assinaram pela Skam e editaram High Scores, um EP por muitos ainda hoje considerado com o maior lançamento da editora. Este disco levou o público a pensar que os Boards Of Canada eram oriundos dos Estados Unidos, dadas as referências nostálgicas ao hip-hop americano e as vibrações chill out dos temas. A este lançamento, seguiu-se a abertura de concertos de bandas como os Autechre ou os Plaid e ainda a participação numa compilação para a Skam sob a designação de Hellinterface. A banda continuou o seu caminho editorial, lançando o muito aguardado Music Has The Right To Children, distribuído pela Warp e pela Matador e descrito como um álbum profundamente sereno. Este lançamento ajudou também a melhor definir o trip-hop que se fazia nos anos noventa e a fortalecer a presença do scratching e do sampling nesta corrente musical. A música mais ouvida deste álbum, 'Roygbiv', vem precisamente fundamentar esta opinião e é descrita por M.C. Strong como 'se o Exterminador lentamente dançasse break dance numa festa em Beverly Hills'.

Em 1999, e como tantas outras bandas, os Boards Of Canada lançaram uma série de temas gravados nas famosas Peel Sessions, tendo também participado com um tema na edição do décimo aniversário da Matador. É só em 2002 que vêem chegar ao mercado o seu maior sucesso, Geogaddi, que lhe valeu inclusivamente a sua primeira entrevista com o New Musical Express. Nesta entrevista, os Boards Of Canada apontaram a natureza selvagem das paisagens escocesas como a principal inspiração para as suas deambulações ambientais e alucinogénicas. Explicaram ainda a origem do seu nome - uma empresa que filmava documentários sobre ciência e Natureza, aos quais o duo tinha assistido na escola. Este álbum é consideravelmente mais obscuro que os anteriores mas também mais variado no que diz respeito às ambiências.

Os trabalhos mais recentes do grupo escocês incluem o lançamento de A Campfire Headphase, onde o duo arrisca a utilização do som crú das guitarras, o que desagradou a grande parte dos fãs da banda. Se a inclusão das guitarras mostrou a capacidade da banda de se renovar, é na electrónica mais tradicional que reside a razão do fascínio que os Boards of Canada ainda hoje exercem sobre novos ouvintes ou velhos conhecidos. O som deste álbum foi tratado de forma a que nenhum detalhe fosse descurado e a produção cuidada criou a sensação de que o álbum podia ter sido lançado em qualquer outra época. Desde aí, lançaram apenas o EP Trans Canada Highway em 2006, não tendo este despertado reacções calorosas do público ou da crítica.

Geogaddi Music Has The Right To ChildrenPeel Sessions Twoism